De facto, a escolha deste dia – bastante comum, aliás – mostra como a greve é entendida com uma folga. Apesar dos estafados chavões como “dia de luta” ou “de protesto”, cada vez mais portugueses vêem neste um prolongamento do fim-de-semana, ou seja, do descanso. Como respeitar tal “luta”? Assim, é difícil.
A greve é um direito consagrado legalmente, mas se os grevistas aproveitam para fazer as compras de Natal, atraídos pelas campanhas de descontos dos templos do consumismo, o seu acto perde o significado. A greve deve ser vista como um jejum.
Tomemos como exemplo uma greve de fome. É um protesto que deve ser visível e no qual o grevista que comesse apenas um biscoito ficaria automaticamente descredibilizado.
Já nem falo na greve de zelo, à japonesa, em que o facto de os trabalhadores se apresentarem com uma banda negra no braço provoca mal-estar aos empregadores, porque tal seria impensável no nosso país. No entanto, se os grevistas portugueses quiserem ser respeitados, basta que se apresentem à porta dos seus locais de trabalho e aí fiquem durante o período laboral. Imaginam a força de um protesto assim, feito por milhares de pessoas?
Mas não tenhamos ilusões, os grandes sindicatos de esquerda querem tocar a mesma cassete de sempre e estão mais preocupados com a “grande adesão”, já os grevistas do costume, por muito que concordem com o protesto, não querem deixar de “aproveitar o dia”.
Num ano em que perdemos feriados, não admira que haja quem os compense com dias de greve.
Editorial da edição desta semana de «O Diabo».
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